18/08/2007

Um olhar dentro do meu mundo. Por Zieba Shorish-Shamley

























































(depois eu que sou radical)








Um olhar dentro do meu mundo.
Por Zieba Shorish-Shamley

Eles me fizeram prisioneira em grilhões e correntes.
Você sabe qual é a minha culpa? Você sabe qual é o meu pecado?
Esses selvagens ignorantes, que não podem ver a luz continuam a me bater e oprimir,
para mostrar que podem fazer isso. Eles me fazem invisível, em mortalhas e não-existente.
Uma sombra, uma não-existência, silenciada e não vista.
Sem direito à liberdade confinada na minha prisão.
Diga-me como suportar minha raiva e furor?
Eles destruíram meu país e o venderam ao invasor. Eles massacraram meu povo, minhas irmãs e minha mãe. Eles mataram todos os meus irmãos, sem um pensamento.
O reinado que eles impuseram, ordena o ódio e a fúria.
Chacina crianças e idosos, sem julgamento defesa ou júri. Bane a arte e os artistas,
pune os poetas e escritores.Vende drogas e rumores, nutre lutadores terroristas.
Na indigência e miséria eu sigo nessa vida.
Eu continuo tentando conter o conflito. Você poderia me dar uma resposta?
Sabe qual é a minha escolha? Serei eu uma fonte do demônio?
Você pode ouvir minha voz? Essa é minha religião?
É esse o caminho da cultura? Eu mereço esse destino entregue aos abutres?
A dor é intensa, devo acabar com minha vida?
Tomando um copo de veneno? Apunhalando meu coração com uma faca?
Minha terrível culpa é baseada no meu gênero.
Casamento forçado, prostituição, minha venda pelo delinqüente.
Buscando um caminho para compensação, encontrando injustiça cruel.
Pega no círculo vicioso, ganha a paz? e ganha a justiça?
Presa na teia do horror. Desespero, medo, aspereza.
Perdida no mundo do terror, a morte está perto e a escuridão.
O mundo é acossado com a surdez, silêncio, frieza e inércia.
Ninguém ouve meus lamentos, ninguém divide meu tormento. Ouça o tufão rugir, esse é o meu gemido. Olhe a chuva do furacão, minhas lágrimas sem grades..
A raiva do vulcão propaga meus gritos.
A cólera do tornado, a visão dos meus sonhos. Ouça-me, sinta minha dor,
você precisa compartilhar meu sofrimento.
Poderia ser você nessas correntes, se não hoje, amanhã.
Junte-se a mim na resistência, sem parada ou pausa.
Nós podemos derrotar esse demônio, ser vencedoras da minha causa .
Essas regras não podem me deter, eu vou desafiar e lutar para alcançar
a alvorada da liberdade, eu busco a luz da justiça.
Eu vou esmagar esses dominadores, eu vou queimar essa jaula.
Eu vou derrubar esses muros, nesse maldito inferno!

50° aniversário da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
Dedicado a todas as minhas irmãs afegãs e todas as mulheres que sofrem a mesma situação. 10 de dezembro de 1998.

Um comentário:

Andreia LP disse...

É MUITO TRISTE SABER QUE TAMANHA DOR E SOFRIMENTO EXISTE, E AO PENSAR QUE QUALQUER UM DE NÓS , NÃO SOMENTE NO AFEGANISTÃO, ESTAMOS SUJEITO A SOFRER A VIOLÊNCIA DO MUNDO, A FALATA DE RESPEITO, A CRUELDADE....E NÓS MULHERES SOMOS AS PRINCIPAIS VÍTIMAS, MAS EU ACREDITO QUE AINDA DÁ TEMPO DE MELHORAR, EU SOZINHA NÃO SOU NINGUÉM, MAS AS PESSOAS DO BEM SÃO A MAIORIA, SÓ NÃO SEI SE AS PESSOAS DO BEM SABE DISSO...POIS SE OPRIMEM , E SE TORNAM REFÉNS DO MAL....